Deu praia? Chama azamigues!
A praia da boneca sem cabeça existe em todos os municípios do país que têm uma praia. Nem precisa ser de água salgada.
A quantidade de lixo que criamos e descartamos, em especial o plástico, já passou dos limites.
Ao ver o estado em que certos recantos lindíssimos da minha cidade, com potencial para o turismo e geração de renda sustentável, completamente degradados, resolvi usar a fotografia para perguntar a você:
EM QUE MAR VOCÊ GOSTARIA DE NADAR?
Então vem comigo!
A PRAIA DA BONECA SEM CABEÇA
Era uma vez um lugar que ficava na beira do mar, um litoral ora cinza, ora azul, ora verde, ora (des)construído pela mão do homem. Lá viviam esses seres ciclônicos e atlânticos, uns nem tão gentis nem cordiais, nem tão de bem, infelizmente.
Todos, praticamente sem exceção, viviam amontoados num mosaico de casinhas misturadas à paisagem tristemente tropical e assimétrica, desdentada inclusive. Seus habitantes, com fama de simpáticos apesar de tudo, diziam que as praias eram lindas e feitas para todos os gostos, desde o mar mais calminho até altas ondas pra galera surfar.
Uma dessas praias ficava no fundo do tal braço de mar sem dentes com nome do mês de verão mais quente, pedaço desse tal novo mundo que entristeceu o estudioso francês, e onde as montanhas se misturavam com o mar, com as nuvens, com os peixes, com seus habitantes e seus deuses da chuva, do mar, do relâmpago, a quem faziam muitas oferendas para tentar alcançar algum perdão.
Nesse lugar encontrava-se de tudo um pouco, até uma praia escondida, com uma água bem rasinha, quase morna, com manguezal, árvores e sombra na beirada, pedras pra subir e avistar o horizonte, e onde os biguás e os pescadores dividiam as tainhas, as sardinhas, as latas y otras cositas que caíam na rede, tudo na maior harmonia.
Ninguém sabe o motivo, talvez por essa praia ser tão linda, tranquila e secreta, começou a ser frequentada por outros seres extraordinários, nada ciclônicos e muito menos atlânticos, já que eram completamente desprovidos de alma. Uns coloridos, outros desbotados, mas sempre aos pedaços: bolas, garrafas, caixas de ovo vinham nadando atraídas por aquele pedacinho de paraíso, ventiladores sem pá, medusas plásticas, bonecas sem cabeça que tomavam sol ali sem o menor pudor (e tudo bem, né?), ursinhos de pelúcia que tentavam o suicídio e quase morriam na praia, e até unicórnios marinhos, daqueles de dar nó na cabeça dos zoólogos (como classificá-los, minha gente?).
Dizem até que, brincando com o unicórnio um dia desses, a Gata Borralheira rasgou um pedaço do seu vestido, que ficou abandonado nas raízes do manguezal, e ainda por cima largou um outro sapatinho por ali. Afinal de contas, mais um, menos um, quem notaria, não é mesmo?
Let Cotrim, Rio de Janeiro, maio de 2019
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